A etapa começa meio preguiçosa, pois depois de dormir tão bem fica difícil sair da cama. Ainda mais que o albergue estava bem vazio pela baixa temporada e pude dormir num quarto sozinho e bem silencioso.
Mas peregrino tem horário para deixar o albergue e isso não tem como mudar. Às oito horas da manhã saímos para tomar o pequeno-almoço num dos vários cafés de Albergaria-a-Velha. Como o hospitaleiro foi conosco, indicou-nos a melhor opção.
Joaquim Donário é um hospitaleiro-peregrino, ou seja, quando não está tomando conta do albergue de Albergaria está no Caminho. Ele que é natural de Coimbra, então praticamente a sua casa se encontra na rota portuguesa.
Foram interessantes as informações que ele nos passou enquanto comíamos o nosso desjejum. Falou um pouco da associação da qual ele faz parte, Via Lusitana, e do trabalho que eles executam a fim de melhorar a vida dos peregrinos.
É bom saber que tem pessoas trabalhando em prol do Caminho, mas ainda há muito trabalho a ser feito, mas de acordo com ele já está muito melhor do que há alguns anos atrás, tanto em relação aos albergues quanto a sinalização.
Quanto a isso não temos do que reclamar, chegamos até ali muito bem, além de que as duas senhoras americanas com seus quase cinquenta anos (???) e sem falar nada de português não tiveram nenhum problema.
Acredito que o Caminho Português tem muito que oferecer ao peregrino, só a sinalização que em algumas vezes fica confusa e se perdem com a paisagem urbana de algumas cidades, como aconteceu em Coimbra, mas o terreno é quase todo plano e o clima é um dos mais agradáveis.
Não vou nem falar da culinária bem típica e o valor gasto diariamente que é muito menor. O valor da hospedagem é maior pela falta de albergues, mas com o tempo isso também deve melhorar. Enfim, Caminhos e suas infraestruturas se forem comparar é melhor não fazê-los.
Despedimo-nos de Joaquim e seguimos as setas amarelas, logicamente que devido ao ritmo de caminhada, já me despedi das americanas por ali mesmo.
A etapa é praticamente paralela a Nacional IC-2, de tempos em tempos temos que cruzá-la. A primeira vez acontece logo na saída de Albergaria-a-Velha, quando as setas nos levam para caminhar junto a um pequeno bosque local em Urgueiras, em direção a Casa Diocesana de Nª. Sª. do Socorro.
Esse primeiro é de nível ascendente, mas nada muito intenso, o peregrino após quinze dias na estrada já estará mais que habituado aos pequenos desníveis do Caminho Português.
Ainda caminhando em meio à natureza as setas amarelas seguem rumo a Albergaria-a-Nova, onde para a minha surpresa, também é possível encontrar hospedagem num albergue aberto recentemente, infelizmente por causa do horário estava fechado e não vi as instalações, mas consegui pegar as informações de contato e coloquei no mapa do Google acima.
As setas nos levam pela estrada nacional IC-2 e atravessam Albergaria-a-Nova e seguem em direção à localidade de Laginhas, onde pela primeira vez o peregrino acompanha a linha férrea local por uma estrada paralela.
Após o povoado de Outeirinho as setas amarelas literalmente levam o peregrino a caminhar junto à linha do trem por um trecho de 200 metros. Em alguns países da Europa é proibido andar pela linha férrea, use a trilha usada pelos moradores locais e tenha muito cuidado nessa hora. Lembre-se de parar, olhar e escutar antes de seguir em frente.
As setas seguem em direção a Pinheiro de Bemposta, onde será possível encontrar todo o tipo de comércio, mas fora do traçado do Caminho, então fique de olhos abertos caso queira dar uma parada para almoço ou outro pequeno-almoço. A Igreja Matriz de Bemposta também fica fora do itinerário, devendo o peregrino tomar um desvio a esquerda próximo ao posto dos correios.
Metade da etapa concluída e quase na hora do almoço, então recomendo uma parada no Restaurante do Seu José Antônio, esse no traçado e já na saída de Bemposta. Lugar simples ao lado da pequena Capela de São Silvestre, mas que serve uma belíssima fresna na brasa, um churrasco típico local. O descanso ou siesta pode ser numa sombra na praça do pelourinho, que fica um pouco mais a frente do restaurante.
Com forças renovadas e retornando ao Caminho Português, as setas amarelas indicam um atalho à esquerda ao peregrino descendo a Rua dos Paços do Conselho, onde se passa por dentro de uma antiga casa e desce a ladeira pelas escadarias de acesso. Fique atento com o cão que está preso logo após os arcos e se tiver dúvidas quanto a sua segurança, siga em frente, as setas estarão esperando logo após a casa indicando o Caminho.
As setas novamente atravessam a IC-2 e seguem em direção ao vilarejo de Caniços pela Avenida do Espirito Santo, no final da avenida é possível tomar um café antes de seguir pela Estrada Real, cruzar com a N-224 e seguir pela Rua Monte D’Além. O melhor mesmo é o nome das ruas!!!
Agora falta pouco para chegar a Oliveira de Ázemeis, mas antes as setas amarelas seguem novamente um pequeno trecho junto à linha férrea e seguem por uma área rural onde após dois quilômetros o peregrino já se encontra nos arredores do destino da etapa.
Antes de chegar ao centro da cidade é possível carimbar a credencial do peregrino e pegar algumas informações de hospedagens, inclusive reservar algum local em Oliveira de Ázemeis no Centro de Informação Turística que fica na Praça da Cidade. As atendentes são super atenciosas, especialmente com os brasileiros.
Não há albergue para peregrino em Oliveira de Ázemeis, mas a cidade dispõe de todo o tipo de hospedagem e a opção para o peregrino são os Bombeiros Voluntários. O atendimento ao peregrino é realizado no antigo quartel da corporação, que também funciona como Museu das antigas viaturas da cidade.
O Quartel antigo dos Bombeiros Voluntários fica bem ao lado da Igreja Matriz de Oliveira de Ázemeis, seguindo as setas amarelas.
A cidade de Oliveira de Ázemeis é grande e próximo aos Bombeiros Voluntários o peregrino encontra todo o tipo de serviços e muitos restaurantes, além de estar ao lado da Igreja que toca o seu sino pontualmente de hora em hora. Também nas proximidades se encontra um Shopping Center com um supermercado, onde é possível repor os mantimentos para a próxima etapa.
As dependências dos Bombeiros Voluntários são simples, mas de acordo com o padrão encontrado anteriormente, só não tem acesso à cozinha, então o único jeito é comer pela redondeza.
Enfim, etapa concluída tranquilamente e sem dificuldades, muito asfalto como sempre, mas curta. Falta pouco para chegar à Cidade do Porto, mas antes mais duas etapas, uma de 32 quilômetros até Grijó e outra de 22 quilômetros até o Porto. Então só resta o peregrino guardar forças para seguir viagem!
Próxima parada... Grijó!